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Estruturas Clinicas: Neurose, Psicose e Perversão




O presente texto é uma síntese das palestras dadas pelo psicólogo e psicanalista René Schubert sobre psicopatologia para o publico acadêmico e interessados de maneira geral em Saúde Mental. Aborda-se a psicopatologia a partir do olhar da psicanálise e dos conceitos da psiquiatria.  O presente texto acaba sendo muito conciso e breve por se tratar de uma síntese de um tema muito mais amplo e complexo.






Normalidade: Conceito Ético ou Cultural?
·         O que torna um ser Normal?
·         O que o torna “mais” normal em detrimento de outros?
·         Quem direciona e fiscaliza a normalidade? Ou melhor, quem tem o poder de ser “direcionador” da normalidade?
·         Como refletir e atuar com normalidade?
·         A normalidade é a verdade?
 
Segundo a definição Lexica:
·         do Lat.  Normale / conforme à norma ou à regra comum; que serve de regra, de modelo; exemplar; habitual; ordinário;

·         Normalidade é um estado padrão; normal: o que é considerado correto, justo sob algum ponto de vista. É o oposto da anormalidade. A normalidade muitas vezes se dá por conta de uma maioria em comum, sendo anormal aquele que contraria esta maioria. A normalidade também se dá por um resultado padrão ao realizar uma operação com alta probabilidade de se repetir.

PsicoPatologia – a Patologia Psíquica  - A paixão da alma, o adoecimento do corpo
·         Psicho – Pathos 

·         Patologia (derivado do grego pathos, sofrimento, doença; e logia, ciência, estudo) é o estudo das doenças em geral sob aspectos determinados.

·         Psicopatologia é um termo que se refere tanto ao estudo dos estados mentais patológicos, quanto à manifestação de comportamentos e experiências que podem indicar um estado mental ou psicológico anormal. O termo é de origem grega; psykhé significa espírito e patologia, estudo das doenças, seus sintomas. Literalmente, seria uma patologia do espírito.

A psicanalise estuda, reflete e trabalha as hipóteses diagnósticas a partir de tres principais grupos de estruturas clinicas: Neurose, Psicose e Perversão 

Cada qual destas estruturas apresenta um discurso, um posicionamento frente a vida, mecanismos de defesa psiquicos, sintomas e sinais  bem caracteristicos quando adoecem ou quando seu desejo se faz presente.

É a partir desta postura e discurso que o sujeito se insere na linguagem e na cultura - e faz isto de uma maneira singular - por isto que, apesar de apresentar uma estrutura clinica predominante, manifesta-a de maneira propria, a partir de sua historia de vida; origem genetica, familiar e cultural; acontecimentos durante a vida; formas de sentir, interpretar e se expressar em seu intimo e externamente frente à sociedade; entre outros.

Somos seres Bio - Psico - Sociais - Espirituais. Há uma multifatoriedade de eventos e situações que nos dão forma, contorno e recorte.

Mas para falar das estruturas clinicas, utilizaremos a Psicanalise aplicada...

Psicanálise aplicada ao Cinema: Alguns exemplos clínicos a partir de filmes.


Psicose:“Perda do contato com a Realidade”

O termo psicose apareceu no séc. XIX, criado em 1845 por Ernst Von Feuchtersleben, um filósofo austríaco que utilizava esta terminologia para denominar, de uma maneira geral, as doenças do espírito - essa terminologia transforma-se em sinônimo de alienação mental.

No texto “Neurose e Psicose”, Freud (1924) temos:  “A neurose seria o resultado de um conflito entre o eu e o id, ao passo que a psicose seria o resultado de uma perturbação nas relações que o eu mantém com o mundo externo (..) na psicose há uma perda do contato com a Realidade"

Filmes: Spider e O Inquilino

O     Reconhecida pela psicologia, psicanálise e psiquiatria como uma quadro clínico no qual o funcionamento psíquico é “anormal”. 

O     O indivíduo sente-se estranho e inquieto na presença de outras pessoas  ou do meio social e costuma apresentar fenômenos psíquicos como delírios e alucinações.

O     O Dr. Ballone afirma: “A psicose é uma doença mental caracterizada pela distorção do senso de realidade, uma inadequação e falta de harmonia entre o pensamento e a afetividade.”

Alguns quadros psicopatologicos conhecidos na psicose:


 Esquizofrenia:  O pensamento e o afeto, cindido

Filmes: A Mente Brilhante, Estranho no ninho

O     A Esquizofrenia, representante mais característica das psicoses, é uma doença da Personalidade total que afeta a zona central do eu e altera toda estrutura vivencial. Culturalmente, o esquizofrênico representa o estereótipo do "louco", um indivíduo que produz grande estranheza social devido ao seu desprezo para com a realidade reconhecida. Agindo como alguém que rompeu as amarras da concordância cultural, o esquizofrênico menospreza a razão e perde a liberdade de escapar às suas fantasias. 

O     Segundo Kaplan, aproximadamente 1% da população é acometido pela doença, geralmente, iniciada antes dos 25 anos e sem predileção por qualquer camada sociocultural. O diagnóstico da doença ainda se baseia exclusivamente na história psiquiátrica e no exame do estado mental, muito embora os meios de investigação por imagens funcionais esteja avançando a passos largos no sentido de estabelecer-se um diagnóstico mais preciso. É extremamente raro o aparecimento de esquizofrenia antes dos 10 ou depois dos 50 anos de idade e parece não haver nenhuma diferença na prevalência entre homens e mulheres. 

Esquirol (1772-1840) considerava a loucura como sendo a somatória de dois elementos: uma causa predisponente, atrelada à personalidade, e uma causa excitante, fornecida pelo ambiente. Hoje em dia, depois de muitos anos de reflexão e pesquisas, a psiquiatria moderna reafirma a mesma coisa com palavras atualizadas.

Alguns sintomas, embora não sejam específicos da Esquizofrenia, são de grande valor para o diagnóstico. Seriam:
O     audição dos próprios pensamentos (sob a forma de vozes);
O     alucinações auditivas que acometam o comportamento do paciente;
O     alucinações somáticas;
O     sensação de ter os próprios pensamentos controlados, irradiação destes pensamentos;
O     sensação de ter as ações controladas e influenciadas por alguma coisa do exterior. 

  

Psicose Bipolar : Conhecida popularmente como Dupla Personalidade...
 
Filmes: O numero 23; Eu, eu mesmo e Irene

Condição mental onde um único indivíduo demonstra de duas ou mais personalidades ou identidades distintas, cada uma com sua maneira de perceber e interagir com o meio. O critério de diagnóstico também leva em perdas de memória associadas, geralmente descritas como tempo perdido ou uma amnésia dissociativa aguda.
Define-se dissociação como um processo mental complexo que promove aos indivíduos um mecanismo que possibilita-os enfrentar situações traumáticas e/ou dolorosas. É caracterizada pela desintegração do ego. A integração do ego, ou o ego enquanto centro da personalidade, pode ser definido como a habilidade de um indivíduo em incorporar à sua percepção, de forma bem sucedida, eventos ou experiência externas, e então lidar com elas consistentemente através de eventos ou situações sociais. Alguém incapaz disso pode passar por uma desregulagem emocional, bem como um potencial colapso do ego. Em outras palavras, tal estado de desregulagem emocional é, em alguns casos, tão intenso a ponto de precipitar uma desintegração do ego, ou o que, em casos extremos, tem sido referenciado diagnosticamente como uma dissociação. 


Neurose: sofrimento dos “nervos”

Neuron (grego): Nervos -  Osis : Anormalidade

Filmes: Melhor é Impossivel; Um Virgem de 40 anos; Quero ficar com Polly

O     Foi estudando a Neurose, mas especificamente a Histeria, que Sigmund Freud desenvolveu as bases e conceitos que hoje constituem a Psicanálise, como teoria e terapêutica.
O     A palavra "neurótico", da maneira como costuma ser usada hoje, tem sentido impróprio e pode ser ofensivo ou pejorativo. Pessoas que não entendem nada dessa parte da medicina podem usar a palavra "neurose" como sinônimo de "loucura". Mas isso não é verdade, de forma alguma. A Neurose é uma reação exagerada do sistema emocional em relação a uma experiência vivida (Reação Vivencial). Neurose é uma maneira da pessoa SER e de reagir à vida.
O     Quando se diz que a pessoa É neurótica e não ESTÁ neurótica, está se tentando dizer que a neurose é uma maneira da pessoa ser, associada à traços de sua personalidade. Essa maneira de ser neurótica significa que a pessoa reage à vida através de reações vivenciais não normais; seja no sentido dessas reações serem desproporcionais, seja pelo fato de serem muito duradouras, seja pelo fato delas existirem mesmo sem que exista uma causa vivencial aparente.
O     Há no Neurótico algo de inflexível e controlado demais. Muitas regras, muitos poréns, muitos “e se”...
O     O Neurótico torna-se prisioneiro da fórmula mágica que desenvolveu para “se proteger do mundo”.


O     Neurose não é:
- Falta de Homem (ou de Mulher)
- Falta de pensamento positivo
- Cabeça ou mente fraca
- Falta de força de vontade
- Falta de ter o que fazer
- Ruindade, maldade ou capricho
- Sem vergonhice
- Influência espiritual
- Mau-olhado ou encosto
- Coisa "de sua cabeça" (coisa da cabeça é caspa)
- Falta de ter passado por dificuldades de verdade (isso é sorte)
- Um pai muito severo ou uma mãe muito protetora... 

Quadros clínicos comuns à Neurose: 
Transtorno Obsessivo Compulsivo; Histeria; Transtornos Ansiosos; Transtornos Fóbicos; Pânico; Quadros Depressivos


Perversão: "O Negativo da Neurose!"


Filmes: Hannibal; O silencio dos inocentes; Temos que falar sobre Kevin

O     Na Psicanálise, a partir de 1896, o termo perversão foi definitivamente adotado como conceito, que assim conservou a idéia de desvio sexual em relação a uma norma. 

Não obstante, nesta nova acepção, o novo conceito é desprovido de qualquer conotação pejorativa ou
valorizadora e se inscreve, juntamente com a psicose e a neurose, numa estrutura clínica diagnóstica.



O Ato Cruel…a Psicopatia, Sociopatia

Descrições dinâmicas clínicas comuns:
O     traços impulsivos, agressivos, hostis, extrovertidos;
O     são confiantes em si mesmos;
O     baixos teores de ansiedade;
O     ausência de sentimento de culpa ou remorso;
O     narcísicos e vaidosos;
O     atos e comportamentos antissociais;
O     criadores de intrigas e conflito no meio em que se encontram;
O     sexualmente ativos e pervertidos;
O     indiferentes ao afeto ou reação do outro (dificuldade marcada na capacidade de empatia).


Em nossa sociedade atual...
O     A psicopatia é algo muito “valorizado” na nossa cultura contemporânea – onde o esperto e o malandro é mais do que aquele que faz as coisas como ditam as regras (é o psicopata versus o Neurótico).
O     Muitos personagens psicopatas são destacados pela cinema, telenovelas e mídias em geral.
O     A falta de compromisso com o outro, a ausência de empatia e culpa são erroneamente e romanticamente confundidos como capacidade de liderança, pulso firme, poder  e influencia pessoal.
O     Não torturam necessariamente suas vítimas de forma física, mas as subjugam a sua visão de mundo.  Cometem abusos de poder, coerção moral, chantagens e extorsões com muita facilidade.



Uma reflexão final...

A normalidade como princípio Social (MORAL)
e o Equilíbrio como princípio subjetivo (ÉTICA)


 O Grito - Münch
De perto ninguém e normal,
“Cada qual com sua própria loucura”
“Cada macaco no seu galho”
“Entre quatro paredes, vale tudo, se todos estiverem de acordo”
“Vale tudo, no amor e na guerra”

São frases sociais comuns falando da excentricidade alheia, da loucura pessoal e social, dos absurdos capazes de serem presenciados, vividos e cometidos pelo ser humano, tanto em seus momentos de privacidade como no convívio social.

 Uma frase que marca muito claremente a posição subjetiva é a Frase de Caetano Veloso  (da música Dom de Iludir): “ Cada um sabe a dor e a delícia de Ser o que é!” 


Salvador Dali - O Contador Antropomórfico



Referência Bibliográfica

·     O Mal estar na civilização (1930) ; O sentido do Sintoma (1917); Neurose e Psicose (1924) - Sigmund Freud
·     Seminário 3 – As Psicoses – Jacques Lacan
·     Psicogênese das doenças mentais – Carl Gustav Jung
·         O autor do Crime Perverso - Marie-laure Susini
·         Você quer o que deseja? - Jorge Forbes
·         A parte obscura de nos mesmos; Dicionário de Psicanálise - Elisabeth Roudinesco
·         Em defesa de uma certa normalidadeJoyce Mcdougall
·         O Alienista – Machado de Assis
·         Dom Quixote – Miguel de Cervantes
·         O Diário do Farol – Ubaldo Ribeiro

Filmes 

Spider / Mente Brilhante / O número 23 / Estranho no ninho / O inquilino / Psicose / O Enigma das cartas / Os contos de Marques de Sade / Advogado do Diabo / Temos que falar sobre Kevin/Silêncio dos Inocentes / Jogos  Mortais / O Dragão Vermelho / Batman, o cavaleiro das trevas / Quem quer ficar com Polly/  Um virgem de 40 anos / Melhor é impossível / Retratos de uma obsessão / Sybil / Fragmentado / Cisne Negro / Coringa

Websites para pesquisa:

Consultório de Psicologia: http://clinicavitoriaregia.blogspot.com/
Escola Brasileira de Psicanalise: http://ebp.org.br/
Sociedade Brasileira de Psicanalise: http://www.sbpsp.org.br/
SCIELO – Biblioteca Cientifica Virtual: http://www.scielo.br/

12 comentários:

Catarina Araújo disse...

Muito Bom Parabéns! Adorei a indicação dos filmes! Vou usa-los para fazer trabalhos complementares ~

Boia de Nível Composta Automotiva disse...

Se os transtornos mentais forem comparados a um sistema operacional infectado, resta apenas a formatação. Como formatar a mente humana?

TIPEMSE disse...

Formatar seria apagar, deixando limpo, novo para aplicar o que for desejado, outra história, inclusive com outros programas e ate mesmo forma de operar. Sendo assim, não tem como se comparar essas estruturas sistema operacional de uma maquina e o sistema operacional do homem. Alem disso, eh um outro quem apaga o sistema da maquina, e sendo do homem para que seja possível a minima alteração tem que passar pela decisão do próprio sujeito. E, se fosse possível tudo apagar seria a morte desse sujeito.

Martyus disse...

Obrigado, me ajudou com o concurso! hehehe

René Schubert disse...

Agradeço aos feedback e reflexões!

Anônimo disse...

Eu tenho uma dúvida. Ex: o autismo é considerado uma psicose(perda do contato com a realidade)mas e os autistas que recuperaram o contato com a realidade e possuem vidas normais mais com marcas ainda doença são consideradas ainda psicóticas ou agora são neuróticas.

Fredson Farias disse...

parabéns pelo artigo, objetivo e com uma linguagem bem acessível

René Schubert disse...

Agradeço os gentis feedbacks!

Pablon, sim, do ponto de vista psicanalítico tratamos o autismo como uma estrutura psicótica. Ao se recuperarem do quadro psicopatológico, do quadro de crise, e adaptarem-se à realidade externa, cultura e sociedade, continuamos considerando a estrutura psicótica - mas uma estrutura psicótica sem a manifestação psicopatológica - geralmente comum na crise, surto, por exemplo.

Unknown disse...

Adorei o conteúdo, simplificado e de fácil entendimento.

Obrigada

Lua- Eu Crio Moda disse...

Ótimo post, adorei as sugestões de filmes, muito bem elaborado!

Unknown disse...

Uma pessoa que não tem nehuma neurose, nenhum quadro neurotico, continua com a estrutura neurotica?

René Schubert disse...

Falamos na psicanálise das estruturas Neurose, Psicose e Perversão - e cada uma delas tem as suas formas, dinâmicas, signos e sintomas de patologização - psicopatologias! A questão é avaliar cada caso singularmente e verificar se há alguma psicopatologia evidente ( crise/ surto) e de qual estrutura estaríamos falando - no caso diagnóstico - isto na primeira clinica da psicanálise.